"Revolução (Sem) Sangue" foi fotografado por Pedro Negrão e realizado por Rui Pedro Sousa.
Tony Costa: Pedro depois de alguns anos voltaste a filmar uma longa, a última tinha sido em 2018 com um telefilme pelo meio, é difícil sendo residente no Porto ter mais filmes? Ou é uma escolha tua?
Pedro Negrão: Acredito que num país com a dimensão do nosso a questão geográfica não deve surgir como impedimento. Nos últimos anos, tive o privilégio de fotografar ficção, documentário e até animação. Os convites para longa-metragem surgem pontualmente e, sempre que entendo que posso contribuir para a visão do realizador, abraço esses projectos.
TC: Este filme da Revolução, tu e o realizador nunca colocaram a hipótese de filmar a preto e branco? E porque não?
PN: Não colocámos essa hipótese. Procurámos perceber como era Portugal nessa época, uma vez que ainda nenhum de nós era nascido, e retratá-la o melhor possível.
Analisámos imagens de arquivo, fotografias e, claro, outros filmes que procuraram retratar estas décadas.
A ideia era dar ao filme um sentimento de época não o desviando de uma linguagem contemporânea.
TC: Não escolheste dar à imagem aquele period look clássico dos filmes de época, não o fizeste por alguma razão? Pelo menos não está muito evidente. O que fizeste para dar o aspeto temporal? Usaste algumas objetivas especiais,« ou trabalhaste na correção de cor?
PN: Existem lugares comuns no que a essa estética diz respeito que acabámos por não adoptar mas julgo que o filme manifesta um visual histórico. No que objectivas diz respeito, procurámos utilizar lentes com menos definição para que se “sentisse menos a captura digital”.
TC: Que equipamento usaste?
PN: Filmámos com uma Alexa Mini e um kit Zeiss T2.1. Ocasionalmente tínhamos uma segunda câmara (Alexa XT Plus). Enquadramos para uma proporção de 2:1.
TC: Qual foi a tua equipa?
PN: Na equipa de imagem esteve o Marcel Encarnação, Alexandre Pereira, Carolina Abreu e Rita Saraiva. Pontualmente reforçados pelo Gustavo Vasconcelos e pelo Sílvio Rocha.
Na maquinaria esteve o Pedro Marques e o Sílvio Rocha.
A equipa de iluminação era composta pelo Filipe Ferraria, Bernardo Coelho, Mauro Airez e Filipa Vicente. Como tivemos uma pausa antes da última semana de filmagens, entrou uma nova equipa com o João “Musga”, Ivo Mendes, João Correia e Gonçalo Aguiar.
O gimbal foi operado pelo César Rocha.
Na operação de steadicam esteve o Bruno Cardoso, o João Nuno Soares e o Samuel Amaral.
O drone foi operado pelo Frederico Borges.
Espero não me ter esquecido de ninguém...
TC: Nos planos de multidão tiveste mais do que uma câmara? E como planearam?
PN: Estes dias tiveram de ser planeados com muito critério pois o tempo para filmar era reduzido, muitas vezes com cortes de trânsito temporários. As decisões dos vários departamentos tinham em conta o contexto financeiro do filme que não permitia transformar por completo a baixa lisboeta nem contar com um número muito extenso de figurantes.
TC: Das cenas todas de qual delas mais gostas? Podes explicar como fizeste?
PN: Não sei se é gostar mais mas julgo que escolheria a do tiroteio, uma vez que todo o filme converge para esse momento. Ao contrário do resto do filme, com movimentos de câmara mais formais, esta cena é toda em câmara ao ombro, filmada como um plano de sequência. Abordar este desafio simultaneamente coreográfico e logístico foi um processo muito entusiasmante.
TC: Por último se ainda não respondeste tudo nas questões anteriores como decidiste com o realizador a estética a dar ao filme?
PN: O Rui Pedro Sousa é um realizador com uma sensibilidade e postura, a meu ver, fora do comum. A estética do filme é o resultado do trabalho dos vários departamentos que ele soube envolver e coordenar com particular mestria.
No caso da direcção de fotografia, a estética do filme foi surgindo de forma natural nas várias reuniões que tivemos, apoiada em referências visuais ou musicais.
TC: Podes acrescentar mais alguma coisa que te aprouver escrever, por exemplo uma palavra à tua equipa por exemplo ou acrescentar alguma decisão durante a rodagem inesperada.
PN: Nas sempre exigentes semanas de rodagem, o ambiente no plateau foi extraordinário e julgo que isso se deve à postura de todos os intervenientes, muito contagiados pelo Rui Pedro Sousa.
Na minha opinião este filme é sobretudo uma homenagem às cinco pessoas que foram mortas à porta da PIDE, no dia 25 de Abril. Espero que tenha um papel entre as várias obras que convidam à reflexão sobre o caminho percorrido e o que ainda temos a percorrer enquanto sociedade.
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