GRAND TOUR de Miguel Gomes, com fotografia de Rui Poças aip, Sayombhu Mukdeeprom e Gui Liang, foi galardoado com o Prémio à Melhor Fotografia no Festival Caminhos do Cinema Português 2024.
"Pela capacidade em transportar o espectador através do espaço e do tempo, em convencê-lo e seduzi-lo através do jogo de sombras e de luzes, entregando-lhe um maravilhoso novo mundo, o Júri Caminhos atribui o Prémio de Melhor Fotografia a Rui Poças AIP ABC, Sayombhu Mukdeeprom, Gui Liang, pelo filme GRAND TOUR."
Parabéns Rui!
Rui Poças aip
Desde o nosso primeiro projecto juntos em 1999 (“Entretanto”) que as propostas do Miguel Gomes foram sempre arrojadas e extremamente estimulantes para o trabalho de direção de fotografia. Quando em 2018, ele me falou do projeto de “Grand Tour” e da forma como o queria abordar, fiquei imediatamente entusiasmado. As filmagens teriam lugar em dois momentos distintos, espacial e temporalmente. A primeira parte seria filmada por uma pequena equipa com o meu colega Sayombhu Mukdeeprom num périplo pelo Sudeste Asiático e com base nesse material “documental” e contemporâneo seria escrito o guião para a parte ficcional, a filmar exclusivamente em estúdio “revisitando” alguns dos locais filmados numa reconstituição desses locais em 1918. Uma pandemia e alguns anos se meteram pelo meio e eis-me a iluminar cinco grandes estúdios com decors tão complexos tais como um rio no meio de uma tempestade, um templo japonês na neve, uma floresta de bambu ou um porto oceânico. Para esta missão de dimensão pouco habitual no cinema português, trabalhei com meses de antecedência em conjunto com a equipa de arte, prevendo a iluminação de cada cena ao pormenor, um gigantesco puzzle de dimensões, escalas, tempos de montagem e desmontagem e até mesmo implantação de vários decors no mesmo estúdio para uma maior rentabilização de meios e ocupação de estúdio. Na rodagem contei com uma fantástica equipa luso-italiana, parte dela liderada pelo meu valioso colega Pedro Emauz que ia avançando na complexa montagem de iluminação integralmente constituída por fontes de incandescência, para estar de acordo com a linguagem visual e recursos técnicos do filme - filmado em 16mm preto e branco - e também com a incontornável necessidade de valores altos de exposição. A sensibilidade de exposição era de 160 iso, o que representa correspondentemente valores de iluminação bastante altos, como se sabe. Para dar uma ideia da dimensão, chegamos a ter montados em estúdio pouco mais de 450 Kilowatts!
Se as imagens contemporâneas do filme são intrinsecamente realistas, algo que a montagem se encarrega de desfazer e transformar, as imagens de estúdio são um gesto de fantasia e apelam à experiência cinéfila do espectador. O trabalho de reprodução de alguns espaços em estúdio com o recurso a efeitos atmosféricos e uma estilização na iluminação que se reporta aos filmes de estúdio da primeira metade do século XX, situa a ficção não só no tempo nomeado – 1918 – mas sobretudo num “tempo de cinema” e assim, o anacronismo faz-se de múltiplas maneiras e não apenas entre passado e presente. A subversão de tempos estava de resto presente desde o inicio no processo de filmagem, uma vez que as imagens de arquivo foram recolhidas na actualidade, servindo de base para a construção do tempo fílmico de 1918, em estúdio. E é o preto-e-branco que empresta unidade à experiência de ver o filme. A bela emulsão Kodak 7222, conhecida há gerações como a clássica Eastman Double X.
Foram meus parceiros nesta aventura:
Pedro Emauz
Primeiro Assistente - Nuno Ferreira
Gaffer (equipa portuguesa) – José Manuel Rodrigues
Gaffer (equipa italiana) – Maurizzio dell’Orco
Chefe Maquinista – Horacio Gonçalves
Colorista – Yov Moor
Camara Arriflex 416; Zeiss Superspeed.
Laboratórios Augustus Color, Roma
Estudios Showreel, Lisboa
Estudios Studios de Paolis, Roma
Associação de Imagem cinema-televisão Portuguesa
Fundada em 2 de junho de 1998
Pela Arte e Técnica Cinematográfica
Telef.: +351 911 993 456