Entrevistámos Martim Vian aip sobre a estreia de LOVE, BROOKLYN (2025) no Sundance Film Festival

31 dezembro 2024

Martim Vian aip muitos parabéns por mais uma conquista, embora esta seja de mencionar que tem um tom especial pois o filme Love, Brooklyn vai ser estreado no Sundance 2025. Sabemos que, pela tua filmografia, já tens em carteira várias assinaturas na direção de fotografia entre séries e longas metragens e com Love, Brooklyn a estrear no Sundance 2025, parece-nos mesmo muito especial.

aip: Gostaríamos de saber como tu vês este filme neste momento da tua carreira?
Martim Vian: Depois de fazer qualquer trabalho, nunca há garantias que irá ser visto. Um Festival como o de Sundance é uma oportunidade fantástica para um filme independente e sem distribuição como o nosso. Não só aumenta muito as hipóteses de que seja vendido para distribuição, mas também cria um foco temporário e chama a atenção da indústria para as nossas carreiras individuais. Desse ponto de vista, pode ter um papel grande em termos dos trabalhos que vêm a seguir.  

Love Brooklyn 2025 galery dualshot medium

Conta-nos como aconteceu o convite para fazeres a fotografia deste filme?
Fiz algumas publicidades com uma das produtoras do filme. Quando estavam à procura de Director de Fotografia para este filme, ela sugeriu o meu nome. Fiz várias entrevistas com a realizadora, Rachael, em que falámos sobre as nossas ideias para o filme, e com os outros produtores, e eventualmente ofereceram-me a projecto. 

Podes fazer-nos um resumo sobre o arco narrativo deste filme?
Love, Brooklyn conta a história de três Nova Iorquinos de Brooklyn, num momento específico das suas vidas, em que confrontam questões de carreira, amor e perda, numa cidade em constante mudança. É um filme sobre personagens à deriva, divididos entre o conforto de um passado conhecido e as incertezas do futuro.

Como se estabeleceu a imagem no processo criativo das primeiras abordagens com a realizadora Rachael Holder?
A Rachael queria uma imagem muito específica para este projecto. Ela queria ver-se a si própria no filme, personagens que lhe são familiares mas que raramente vê num ecrã. Negros, de Brooklyn, com problemas e dificuldades como qualquer outro americano. A maioria dos pedidos iniciais da Rachael focaram-se no tratamento das caras e do tom de pele. Ela queria um filme dramático, que balançasse realismo com romance, e com uma iluminação que permitisse acesso às expressões e nuances dos actores com nitidez. Decidimos procurar uma luz motivada e naturalista, com contraste por vezes alto mas sem nunca deixar os actores desaparecerem ou misturarem-se com os fundos. Do ponto de vista de enquadramentos, é um filme muito estático, com uma câmara fisicamente próxima dos actores e com objectivas abertas. A ideia era criar uma intimidade com os personagens, uma proximidade que permitisse escrutínio sem voyeurismo. Ao mesmo tempo, filmámos com diafragmas muito fechados (5.6 em interiores e 8, 11, 16 em exteriores) de forma a criar muita profundidade de campo. Esta abordagem ajudou a contextualizar os personagens no seu meio ambiente (Brooklyn). 

Que cuidados tiveste desde a escolha de câmara, objetivas e iluminação em função dos locais, guarda-roupa e maquilhagem, para garantir uma boa imagem no geral, na composição e num bom tom de pele?
Existem demasiadas escolhas hoje em dia em termos de equipamento, e isso dá-me alguma ansiedade. Por isso tenho tendência a limitar as minhas opções, e filmo regularmente com apenas dois ou três tipos de objectivas, e quase sempre com a mesma câmara. Isso ajuda-me a focar-me mais no que está em frente à objectiva. Para este filme, dada a "nitidez" que procurávamos, escolhi as Master Primes, e filmámos com uma Alexa Mini e uma Amira. As Master Primes são bastante claras e nítidas, mas não tanto ao ponto de perderem personalidade, como várias objectivas mais recentes desenhadas em computador. E como foram optimizadas para atingirem máxima resolução a aberturas baixas (T1.3 - 2.0), a 5.6 - 11, as imagens começam a perder "perfeição", e os resultados são bastante mais interessantes, em particular nas zonas desfocadas. 
A luz foi feita com uma mistura de LED, HMI e tungsténio. Com uma excepção, o filme foi todo rodado em decors naturais, e tentei tanto quanto possível iluminar de fora das janelas, ou do tecto, e manter o décor tão aberto quanto possível para os actores. Nos planos mais fechados no entanto, para “abrir" um pouco mais a exposição nas caras e criar direção e contraste, acabei quase sempre por trazer luz rebatida ou difusa tão perto das caras dos actores quanto possível. A maquilhagem neste filme é das melhores que já vi, o que fez iluminar os actores um processo muito gratificante.

Love Brooklyn 2025 int livingroom dualshot mediumcloseup

Na tua conta de Instagram referes sempre nos teus posts a equipa com quem trabalhaste. Essa é a principal característica do trabalho em fotografia para cinema. Como encontraste a equipa para este filme e como a equipa contribuiu para o resultado final do filme?
O filme foi rodado em Nova Iorque, e toda a equipa era local. Segui a receita antiga de pedir recomendações, e encontrei-me para um café com aqueles que me pareceram ser uma boa combinação para um projecto como este. O filme foi rodado com um orçamento relativamente baixo e pareceu-me importante juntar uma equipa com ganas de fazer um filme a esta escala, com uma realizadora inexperiente, e bastantes dificuldades técnicas. Como Director de Fotografia somos responsáveis por escolher uma grande parte da equipa, e essas escolhas vão sem dúvida afectar o ambiente no plateau, e a qualidade da experiência para todos envolvidos, em todos os departamentos. Experiência para mim é só um dos factores nessa escolha, e nem sempre o mais importante. O gaffer, por exemplo (Justyn Davis) faz filmes grandes e pequenos, publicidades e videoclipes, portanto tinha uma atitude perfeita para um projecto como o Love, Brooklyn, em que por vezes tivemos de improvisar e resolver problemas de formas criativas, com uma equipa reduzida e material limitado. 

Qual foi a tua relação com DIT e se já se encontram nas equipas um colorista para encontrar, manter e ajudar-te a resolver os desafios na qualidade de imagem final?
Com o DIT julgo a exposição (através dos seus monitores calibrados ou waveforms) quando em dúvida. Sempre que possível crio uma LUT em pré-produção, idealmente com o/a colorista final, para que haja uma consistência de imagem entre a rodagem, as rushes, a montagem e a correcção de cor final. O DIT aplica essa LUT na pipelline, mas de resto raramente toco nas imagens digitalmente, a não ser que tenha sido feito um erro de exposição, ou haja um grande problema de continuidade. Isso permite-me concentrar-me na iluminação e composição dos planos, sem contar com a magia da pós-produção (outra coisa que me dá ansiedade). 

Podes revelar alguma cena mais desafiante que encontraste na rodagem deste filme?
A rodagem do filme atravessou algumas dificuldades de produção, e passada a primeira semana (de um total de quatro) perdemos todos os decors onde íamos filmar. Portanto muito do trabalho de pré-produção que fiz com a realizadora, o gaffer, o key grip, foi por água abaixo. Diria que mais de metade dos decors do filme só vi no próprio dia da filmagem. Ao princípio foi extremamente frustrante essa perda de controle e preparação. Mas à medida que os dias foram passando, fiquei mais confortável com a situação, e percebi que o meu papel era fazer o melhor que pudesse, e dar apoio à realizadora. E sei que hoje em dia estou mais bem preparado para o inesperado graças a este filme. Um bom exemplo - num dos apartamentos em que filmamos era impossível iluminar por fora das janelas por razões logísticas. Mas queríamos fazer um plano muito aberto do espaço. Acabei por esconder tubos LED por trás das cortinas, que me permitiu manter uma luz mais natural e acabou por resultar muito bem. Aprendi um truque (muito simples) que provavelmente não teria pensado noutras circunstâncias. 

Love Brooklyn 2025 int livingroom mediumcloseup

Acompanhaste, certamente, a pós produção do filme. Como foi finalizar este filme?
Fizemos a correcção de cor com um colorista fantástico, o Roman Hankewycz em cinco dias em Nova Iorque. Como o Roman fez a nossa LUT em pré-produção, as questões mais “globais”, de “look”, já estavam maioritariamente feitas. Em todos os filmes que faço, luto sempre por um dia de testes de câmara, e peço que a produção entre em contacto com casas de pós-produção, para podermos contratar alguém desde o início. Tento fazer os teste em ambientes que reflitam o filme que vamos fazer, ao invés de filmar testes nas casas de aluguer. Esses imagens vão para a suite de cor, e permitem a construção de uma LUT específica para o projecto que vamos fazer, conjuntamente com o/a realizador/a. 

O que esperas ou qual o desafio pós-Sundance?
Para mim, o desafio é sempre descobrir projectos bons para filmar. Depende muito da exposição que tenha, mas a esperança é que o Love, Brooklyn ajude a dar a conhecer o meu trabalho a mais realizadores, produtores, actores, etc, e que isso leve a mais e melhores oportunidades. Por outro lado, é bom parar e ter tempo para celebrar o trabalho que fizemos, que nem sempre acontece neste indústria em que estamos sempre a pensar no que vem a seguir. 

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