Entrevistámos Tomás Brice membro aip que estreia a curta metragem A FRONTEIRA AZUL (2025) no Festival de Clermont-Ferrand

02 janeiro 2025

Tomás Brice membro aip vai estrear uma curta-metragem, "A FRONTEIRA AZUL" (2025) no dia 31 de Janeiro num dos mais relevantes festivais de curtas-metragens, o festival de Clermont-Ferrand em França. Os nossos parabéns! 

Só para nos situarmos na leitura deste artigo, eis a sinopse do filme retirado e traduzido do site da produtora Furyo Films:
"Um navio clandestino afunda-se ao largo de uma pequena cidade portuária da costa andaluza sem perturbar a rotina. Os guardas civis separam os náufragos como fazem todos os dias, os turistas aproveitam o bom tempo para velejar e ir ao parque de diversões e os camiões noturnos dirigem-se para norte. Os náufragos, alucinados, descobrem o chão de betão de uma Europa que não os vê."

aip: Em primeiro lugar gostaríamos que nos contasses como surgiu a oportunidade de fotografares este filme? 
Tomás Brice: Tive a sorte de entrar neste projeto a convite do próprio realizador, Dinis Costa. Ele estava à procura de alguém novo para colaborar com ele neste projeto e por contactos comuns acabámos por nos encontrar e começar a desenvolver um pouco mais o filme.

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Julgo, pela sinopse, que o filme tem um pouco de registo numa filmagem em estilo documentário, ou é impressão minha? Podes revelar como surgiu, com o realizador, a definição do estilo de imagem para este filme? Havia um storyboard bem definido e preparado na pré produção?
Embora o tema do filme possa sugerir naturalmente essas imagens e linguagem, a nossa proposta foi um pouco diferente. Quisemos manter uma abordagem bastante observacional mas não ter medo de adicionar ao filme alguns elementos mais associados a uma linguagem mais narrativa e menos documental, nomeadamente um cuidado na luz, enquadramento e até mesmo de ritmo de trabalho, criando uma imagem mais estilizada para conseguir mais construir a narrativa em vez de a capturar. 
Tivemos várias conversas na pré-produção do tipo de linguagem e ao cruzar várias referências escolhemos um mise-en-cene mais parado, com quadros com pouco artifício de movimento de câmara. O Dinis fez um excelente trabalho ao desenhar um storyboard completo do filme nesta etapa, e só consigo mesmo aplaudir a maneira como ele conseguiu pré visualizar todas as cenas. O filme final felizmente aproxima-se muito da nossa ideia inicial e o Dinis realmente conseguiu liderar este barco do início ao fim.

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Em função dessas decisões como abordaste tecnicamente para a rodagem do filme? Na escolha de equipa e de equipamento.
Eu costumo ter tendência para escolher câmaras ARRI para maior parte dos meus projetos, e desta vez não foi diferente. Escolhemos a Alexa 35 por vários motivos. Um deles pela sua capacidade de entregar altas latitudes, o que nos ajudou muito ao fotografar com luz natural, sobretudo nas cenas em exterior no alto mar, preservando todos os detalhes do mar, até em contra luz. Outro, pela forma irrepreensível como esta câmara se comportou nas cenas de exterior noite, em baixa luz, com ISO ES 2560, onde não era possível ter outras opções de intervenção de luz. E por último, por ser uma câmara Super 35 tive a sorte de, a convite do Zé Tiago da Planar poder testar umas objetivas ARRI S35 ainda em fase de protótipo e pelas quais me apaixonei praticamente de um momento para o outro, e pensei logo que poderia ser uma oportunidade única poder usa-las num projeto tão especial como este.
Como as filmagens foram divididas em duas fases, além destas objetivas protótipo, na primeira fase utilizámos também as Sigmas Cine High Speed Zoom para alguns quadros onde utilizámos zooms suaves, e numa segunda fase as Arri Master zoom e Fuji Premistas onde filmámos em Almeria e precisávamos de objetivas que não tivessem muito flare por não conseguirmos ter muita intervenção de luz e que nos ajudassem a trabalhar rápido. Embora tenha falado das capacidades das baixas luzes da arri, eu mesmo assim trabalhei grande parte do tempo em isos baixos e com alguma iluminação pois prefiro ter um "negativo" realmente muito limpo.
Tivémos muita sorte deste apoio essencial da Planar que nos permitiu ter um pacote super completo que nos ajudou a enfrentar as diversas etapas de filmagem.

Em iluminação escolhemos usar bastantes LEDs que tivessem possibilidades RGB, Asteras, Litemat Spectrums, Skypanels e Vortex, não necessariamente para usar cor, mas que pudéssemos equilibrar com as fontes que já existiam nos decóres através de um espectrómetro C800, para atingir uma iluminação controlada mas natural. Com a mistura destes projetores e com alguma manipulação à iluminação que já existia nos lugares de rodagem, conseguimos trabalhar rápido e escolher muito a dedo a nossa palete de cor. No décor do centro de detenção, escolhemos também usar M8s HMI para replicar focos de iluminação de rua mas que fossem mais frios e opressivos. 
Tentámos com estas ideias não ter medo de utilizar uns tons "mais feios" com bases em tons mais esverdeados azuis, mas que trouxeram ao mesmo tempo riqueza à imagem. Queria agradecer ao apoio da STP em toda parte de iluminação que nos ofereceu também imensas sugestões. 

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Como foi o processo da rodagem? A estrutura da equipa, os desafios... as histórias da rodagem. A relação com DIT, data wrangler e com os dailies.
Com a equipa consegui trazer três dos meus colaboradores com quem trabalho bastante em publicidade, O Ricardo Giglio na Iluminação, o João Pedro Pinheiro na imagem, e o Rodrigo Albuquerque para duas sequências em gimbal. Não fomos uma equipa enorme, tendo dois em imagem e três ou quatro em iluminação no máximo dependendo do dia, mas foram todos super empenhados e eficazes mesmo em situações difíceis como filmar no mar, e as inúmeras noites. Gosto de misturar equipas de publicidade em situações narrativas também pelo seu misto de experiência. 
Para Espanha fomos uma micro equipa de Lisboa, só realização, produção, arte, eu e o foquista. Tivemos uma equipa de apoio local e essas noites realmente foram mais desafiantes pela natureza do que filmamos e limitações em certos recursos, mas mesmo assim tivemos todos sempre empenhados em conseguir dar o nosso melhor pelo filme. Nesta fase, tivemos também a Carolina Almeida da produção e o Diretor de arte, Miguel Costa a fazer uma segunda unidade com uma câmara térmica Flir a fazer todos os planos de conexão do filme, que foi para mim uma técnica inédita e super interessante explorar. 
Em relação aos Dalies, nós não tivemos um DIT por motivos de gestão de números totais de equipa, mas como costumo filmar também sempre com uma lut muito própria em vários projectos, já sei aproximar muito bem o negativa da câmara e na verdade, o look final aproxima-se bastante dos nossos dailies sendo que acabaram por ser uma forte referência para o processo de cor.

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Durante a pós produção do filme trabalhaste com um colorista? Como foi para ti manter o rigor na luz captada deste a rodagem até este momento?
Por motivos de co-produção, toda pós produção do filme foi feita em Paris, onde tive a sorte de trabalhar na cor com Gadiel Bendelac. Neste processo, tive em Paris 3 dias com o Dinis a desenvolver este look do qual já gostávamos muito nos Dailies. Na verdade, procurámos um look oposto de cinema independente ou documental, e com uma observação do Gadiel, quase que embelezar uma ideia ou sonho que as nossas personagens estão a buscar, mas que acaba por ser um embrulho bonito para uma realidade mais difícil, assim, rematando um pouco essa ideia visual como representação desta estória. 

Durante quanto tempo estiveste envolvido neste filme? E o quanto este filme é importante para este momento na tua carreira?
O primeiro contato sobre este projeto foi em Julho de 2023 portanto até à entrega final, foi quase um ano e meio! 
Neste momento este filme dá-me ainda vontade de trabalhar mais vezes em ficção e conseguir tentar ajudar realizadores e realizadoras  talentosos/a a contar histórias que mereçam ser vistas. Espero também que este filme tenha um percurso de sucesso nos circuitos de festivais para que mais pessoas tenham a oportunidade de o ver.

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