Ciclo Eduardo Serra «Interpretar um texto com luz» na Cinemateca

27 junho 2025

eduardo serra1 from web

A Cinemateca presta, em boa hora, uma merecida homenagem ao nosso primeiro membro honorário, Eduardo Serra, através da exibição de alguns filmes por si fotografados, num ciclo intitulado «Interpretar um texto com luz». A iniciativa tem início a 8 de julho e prolonga-se ao longo do mês, com projeções de filmes portugueses e estrangeiros, incluindo Jude, que assinalou o início da sua carreira internacional, e A Rapariga com Brinco de Pérola, que lhe valeu a sua segunda nomeação para o Óscar de Melhor Fotografia.
Curiosamente, o ciclo inclui também três obras em que Eduardo Serra assume o papel de realizador, e não o de diretor de fotografia. Tratam-se de três curtas-metragens documentais, recentemente recuperadas pelo ANIM.

Abaixo reproduzimos o texto da Cinemateca, que retrata bem o percurso notável de Eduardo Serra.


EDUARDO SERRA, “INTERPRETAR UM TEXTO COM LUZ” 
 
Eduardo Serra é o mais internacional dos diretores de fotografia portugueses. 
 
Nascido em Lisboa, em 1943, no seio de uma família modesta do bairro da Picheleira, manteve com Portugal uma relação de vai-e-vem desde que, em 1963, se exilou em Paris, depois de participar nas lutas estudantis da paradigmática Crise Académica de 1962 (fortemente reprimida pela ditadura). Abandonou o curso de engenharia, em que estava inscrito no Instituto Superior Técnico (“quando entrei para o Técnico já tinha as maiores dúvidas que isso fosse a minha vida. Tentei. Andei lá três anos. No primeiro ano, não correu muito bem; só fiz uma cadeira. Já estava mergulhado nos cineclubes…”), e foi para em França onde estudou cinema, na École Nationale de Photographie (vocacionada para diretores de fotografia e engenheiros de som), terminando a sua formação em 1966. Depois disso, conclui ainda o curso de História da Arte e Arqueologia na Universidade de Paris-Sorbonne em 1970). 
 
Iniciou o seu percurso como operador de câmara e assistente de imagem na década de 1970, em filmes de realizadores como Alain Cavalier, Francis Girod ou Patrice Leconte. E, já no final da década, começa a assinar os primeiros filmes como diretor de fotografia (documentário e filmes de curta-metragem), sendo que será José Fonseca e Costa, que conhecia há poucos anos, quem primeiro aposta no seu talento. SEM SOMBRA DE PECADO será, portanto, o seu cartão de visita. Como explicou em entrevista, “Organizei uma projeção em Paris, convidei toda a gente que conhecia, vieram muitos, e nunca mais parei. No mês que se seguiu à sessão, propuseram-me vários filmes e a coisa começou a pegar. Curiosamente trabalhei, como diretor de fotografia com realizadores com quem já tinha trabalhado como assistente, o que não acontece muitas vezes. Mas já tinha feito mais de trinta filmes como primeiro assistente, conhecia muita gente.”  
 
Assim, nesse arranque da década de 1980, Eduardo Serra começa por trabalhar numa série de produções de cariz popular: comédias e filmes de ação. Nomeadamente, em filmes de François Leterrier (LE GARDE DU CORPS e TRANCHES DE VIE) e também nas estreias na realização de dois dos atores cómicos mais conhecidos do público francês, Gérard Jugnot e Michel Blanc. De facto, os dois eram protagonistas de LE BRONZÉS (1978), sucesso comercial de Patrice Leconte (mais de 2 milhões de espectadores), no qual Eduardo Serra havia trabalhado como primeiro assistente de imagem. Tanto PINOT SIMPLE FLIC (de Jugnot) como MARCHE A L'OMBRE (de Blanc) tornam-se fenómenos de público (o primeiro chega perto dos 2 milhões e meio de bilhetes vendidos, ao passo que o segundo ultrapassa a barreira dos 6 milhões) e afirmam Eduardo Serra no coração da indústria do cinema francês. 
 
A partir daí, o diretor de fotografia começa a ser um dos artífices mais requisitados, impondo gradualmente um estilo e uma metodologia, com especial preferência pela luz natural: “Tenho este princípio de respeitar as direções de luz natural, mesmo que seja um natural fabricado: quando há janelas, a luz vem das janelas. (…) O meu ponto de partida é sempre fazer uma luz que possa ser identificada como a luz natural da situação ou do lugar." Além de trabalhar com cineastas portugueses (como José Fonseca e Costa, João Mário Grilo, Luís Filipe Rocha ou Fernando Lopes), fez carreira em França, no Reino Unido e nos Estados Unidos da América. Tornou-se colaborador habitual de dois nomes maiores do cinema francês, Claude Chabrol (com quem fez sete filmes) e Patrice Leconte (outros nove) e trabalhou também com realizadores ingleses (como Michael Winterbottom ou Iain Softley), e com cineastas norte-americanos (como M. Night Shyamalan ou Edward Zwick), tendo sido nomeado duas vezes para o Oscar de Melhor Direção de Fotografia: em 1997, por THE WINGS OF THE DOVE, e em 2003, por GIRL WITH A PEARL EARRING.  
 
Do cinema popular ao cinema de autor europeu e do filme de qualidade inglês ao coração da indústria de Hollywood (foi o responsável pela fotografia dos dois últimos filmes da saga Harry Potter), o percurso de Eduardo Serra revela um método de “interpretar o texto com a luz” (citando de uma entrevista a Anabela Mota Ribeiro) que se caracteriza pela força da simplicidade. Este Ciclo acontece depois de, em 2005, a Cinemateca lhe ter dedicado um ciclo no âmbito da série “Grandes Diretores de Fotografia do Cinema Português”, e de ter organizado uma cerimónia de Homenagem a propósito da entrega do Prémio Carreira 2014 da Academia Portuguesa de Cinema. 
 
 
Terça-feira [8] 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro 
UN ANNIVERSAIRE  
França, Portugal, 1975 – 22 min 
RINK-HOCKEY – LE HOCKEY SUR ROULETTES 
França, 1982 – 13 min 
CINÉMA PORTUGAIS? UN MODE D'EMPLOI 
França, 1990 – 40 min 
Filmes de Eduardo Serra 
Duração total da sessão: 75 min / legendado eletronicamente em português | M/12 
Com a presença de Hélène Serra e amigos 
 
Além de Diretor de Fotografia, Eduardo Serra também realizou três documentários. Rodado em abril de 1975, UN ANNIVERSAIRE celebra o primeiro ano do 25 de Abril e, em particular, acompanha as primeiras eleições livres, para a Assembleia Constituinte, a partir das experiências dos trabalhadores agrícolas de três aldeias do distrito de Beja. Produzido pela francesa Copra Films (a mesma de TERRA DE ABRIL, de Philippe Costantini e Anna Glogowski, também rodado em Portugal durante o PREC), esta curta-metragem marcou o regresso de Eduardo Serra a Portugal, depois de se ter instalado em Paris em 1963 como exilado. Já RINK-HOCKEY é um divertido e dinâmico retrato do 25.º Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins (que decorreu em Barcelos, em 1982, e do qual Portugal saiu vencedor), transformado num espetáculo de cores e movimento, pontuado pela sinfonia dos sticks e dos sintetizadores. Por fim, CINÉMA PORTUGAIS? UN MODE D'EMPLOI resulta de uma encomenda do canal de televisão SEPT (futuro ARTE) que, no âmbito da sua programação regular “Cinemas du Monde”, em maio de 1990, organizou um pequeno ciclo de cinema português, com filmes que iam da década de 1920 (OS LOBOS, de Rino Lupo) até à década de 80. Em jeito de introdução, Eduardo Serra realizou este ensaio crítico-histórico sobre as atribulações do cinema português, partindo especificamente dos casos (e das imagens) dos filmes que viriam a ser exibidos. Os três filmes, todos em primeira exibição na Cinemateca, serão apresentados em cópias digitais. 
 
 
Quarta-feira [9] 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro 
Segunda-feira [14] 21h45 | Esplanada 
LE MARI DE LA COIFFEUSE 
O Marido da Cabeleireira 
de Patrice Leconte 
com Jean Rochefort, Anna Galiena, Maurice Chevit, Albert Delpy 
França, 1990 – 82 min / legendado eletronicamente em português | M/12 
 
Desde que Antoine, de 12 anos, viu Madame Sheaffer, a voluptuosa cabeleireira do bairro, soube que um dia se casaria com uma cabeleireira. À medida que os meses se transformam em anos e Antoine se recusa a esquecer a sua fantasia infantil, a silenciosa e distante Mathilde entra no seu mundo, apanhando-o de surpresa. Será ela uma ficção? LE MARI DE LA COIFFEUSE corresponde à segunda colaboração de Eduardo Serra com Patrice Leconte (fizeram nove filmes juntos), sobre quem o primeiro disse que “a ousadia e a força visual de Leconte levam-no muitas vezes a fazer coisas muito originais, diferentes e variadas, absolutamente corretas e totalmente revolucionárias sem nunca se tornarem gratuitas. Os planos que inventou LE MARI DE LA COIFFEUSE são de cortar a respiração! (…) Tive a rara oportunidade de filmar um dos meus filmes preferidos." Além de se tornar num fenómeno mundial, o filme daria a Eduardo Serra a sua primeira e única nomeação para os prémios César, o galardão da Academia Francesa de Cinema. 
 
 
Quinta-feira [10] 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro 
Terça-feira [15] 21h45 | Esplanada 
MARCHE À L’OMBRE 
Vai Pela Sombra 
de Michel Blanc 
com Gérard Lanvin, Michel Blanc, Sophie Duez 
França, 1984 – 90 min / legendado em português | M/12 
 
De mochila às costas, dois músicos chegam a Marselha, vindos da Grécia. François (Gérard Lanvin) é talentoso e tem a ambição de conquistar os estúdios de música parisienses. Já Denis (Michel Blanc – o “Woody Allen francês” que se estreou como realizador com este filme) é ansioso e pessimista e parece atrair todo o tipo de azares. Inseparáveis e complementares, os dois vagueiam pelo submundo urbano até que, à porta de um cinema, conhecem Mathilde. Falecido no final de 2024, Blanc foi um dos atores cómicos mais populares do cinema francês e MARCHE À L’OMBRE tornou-se num extraordinário sucesso comercial, com mais de 6 milhões de espectadores, afirmando Eduardo Serra dentro da indústria francesa. Sobre o filme, explicou o diretor de fotografia "normalmente, a comédia não é muito interessante do ponto de vista fotográfico porque a luz não é um elemento na construção da história (…). Numa comédia, é a ação e não a luz que nos pode fazer rir. (…) Mas em MARCHE À L'OMBRE filmámos contra a luz da comédia, trabalhando o realismo e o claro-escuro". Primeira exibição na Cinemateca. 
 
 
Quinta-feira [10] 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro 
AMOR E DEDINHOS DE PÉ 
de Luís Filipe Rocha 
com Joaquim de Almeida, João d’Ávila, Gemma Cuervo, Henrique Viana 
Portugal, França, Espanha, 1991 – 124 min / legendado em português | M/12 
Com a presença do realizador e equipa 
 
Francisco Frontaria (Joaquim de Almeida) – de boas famílias, mas perdulário, passa os dias em festas, a jogar à sueca e a fazer apostas em corridas de grilos – desdenhou, nos faustosos salões macaenses do início do século XX, a introvertida Victorina Vidal (Ana Torrent), que se converterá em atraente mulher, emancipada quanto aos preconceitos da elite social. De galã conquistador a indigente vai um saltinho. A tragédia e a redenção enlaçam-se nesta adaptação do romance homónimo do escritor macaense Henrique de Senna Fernandes. Rodado integralmente em Macau, o filme foge habilmente a sublinhar o exotismo orientalista, dedicando-se ao nervo emocional da história de amor que liga estes dois excluídos – em França o filme recebeu, apropriadamente, o título “Macau, Desprezo e Paixão”. O crítico Jorge Leitão Ramos elogiou a “cuidada reconstituição, o trabalho de cenografia e o refinamento plástico (onde a fotografia de Eduardo Serra é pedra angular).” A exibir em nova cópia digital. 
 
 
Sexta-feira [11] 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro 
O PROCESSO DO REI 
de João Mário Grilo 
com Carlos Daniel, Aurelle Doazan, Antonino Solmer, Carlos Medeiros, Gerard Hardy 
Portugal, França, RFA, Itália, 1989 – 91 min / legendado em português | M/12 
Com a presença do realizador e equipa 
 
Afonso, filho de D. João de Bragança, reinava, era louco e imbecil. A mulher, filha do Duque de Nemours, prima de Luís XIV, ousou conceber o projeto de destronar o marido. A estupidez do rei justificou a audácia da rainha. O PROCESSO DO REI, sobre a destituição de D. Afonso VI, não é um documentário histórico nem um filme sobre a história (com “h” pequeno ou grande, tanto faz). É uma experiência do passado que, por hora e meia, e por obra e graça de todos estes maravilhosos mecanismos, se transmutou em presente. A propósito da imagem do filme, João Mário Grilo afirmou que “Procuro a verdade e acho que ela está inscrita na pintura. (…) Em O PROCESSO DO REI, o Daniel Arasse [historiador e co-argumentista] queria sair da pintura e eu queria sair do cinema. No fim encontrámo-nos a meio do caminho. O resultado é um filme muito pictórico, onde o contributo do Eduardo Serra foi essencial”. A exibir em nova cópia digital. 
 
 
Sábado [12] 15h00 | Sala M. Félix Ribeiro (Cinemateca Júnior) 
Segunda-feira [21] 19h30 | Sala Luís de Pina 
THE DISAPPEARANCE OF FINBAR 
O Desaparecimento de Finbar 
de Sue Clayton 
com Luke Griffin, Jonathan Rhys Meyers, Sean Lawlor 
Reino Unido, 1996 – 105 min | M/12 
 
Finbar e Danny são amigos de infância que vivem num bairro triste de uma cidade irlandesa. Finbar tem a oportunidade de jogar futebol numa equipa internacional, mas acaba por não a conseguir aproveitar e regressa. Foi como herói e voltou como derrotado. Num ato de desespero, salta de uma ponte e desaparece. Vários anos depois, Finbar telefona a Danny da Suécia. Surpreendido, Danny viaja de Estocolmo para o extremo norte da Suécia, para a Lapónia, à procura do seu amigo de infância. Mas já não será possível reconstituir aquilo que o tempo dilacerou. Obra de estreia da realizadora britânica Sue Clayton, cuja filmografia viria a dedicar-se mais ao documentário (com especial atenção às questões da infância e juventude em condições de adversidade), é também a demonstração da versatilidade do trabalho de Eduardo Serra, capaz de se adaptar a um filme que começa em tons de realismo britânico e termina como comédia nórdica (com ares de Aki Kaurismäki). Primeira exibição na Cinemateca. 
 
 
Sábado [12] 21h45 | Esplanada 
SEM SOMBRA DE PECADO 
de José Fonseca e Costa 
com Mário Viegas, Victoria Abril, Lia Gama, Armando Cortês 
Portugal, 1982 - 104 min 
 
Na década de 40, durante a Segunda Guerra Mundial, na paz podre do salazarismo, SEM SOMBRA DE PECADO segue a relação de um militar com uma mulher misteriosa. Enquanto cumpre o serviço militar, Henrique, um jovem que pertence a uma família burguesa abastada, começa a receber misteriosos telefonemas de uma mulher. Segue-se uma série de encontros sem consequência, que desembocam numa revelação: o amor e a guerra têm muito em comum. Baseado no conto “E Aos Costumes Disse Nada”, de David Mourão-Ferreira, o filme de José Fonseca e Costa foi apresentado em Cannes, na Quinzena dos Realizadores, e garantiu o futuro de Eduardo Serra enquanto diretor de fotografia. Como recordou, em 2002, ao jornal Público "do ponto de vista cinematográfico, não devo nada a Portugal. [No entanto,] devo muito ao Fonseca e Costa. [SEM SOMBRA DE PECADO] era um filme a que, no estado em que estava a minha carreira, eu ainda não teria acesso. Ele apostou em mim e isso foi decisivo para a minha carreira, mesmo em França" 
 
 
Quarta-feira [16] 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro 
Terça-feira [22] 19h30 | Sala Luís de Pina 
FUNNY BONES 
Comédia Louca 
de Peter Chelsom 
com Jerry Lewis, Oliver Platt, Lee Evans, Leslie Caron 
Reino Unido, EUA, 1995 – 128 min / legendado eletronicamente em português | M/12 
 
Um filme de homenagem à genialidade cómica de Jerry Lewis. Vivendo à sombra do seu pai, um famoso comediante (interpretado pelo próprio Lewis), um jovem cómico (Oliver Platt) refugia-se na sua antiga cidade natal (Blackpool, em Inglaterra), após o desastre do seu último espetáculo em Las Vegas. Disposto a tudo para se inspirar, o regresso a “casa” vem com uma série de revelações sombrias sobre o seu passado. Mas também lhe dá a ver que a sua excêntrica família é o melhor material para o seu próximo número de comédia física. A abordagem de Eduardo Serra foi uma de “reinterpretação”, isto é, “replicar em cinema o que faríamos se se tratasse de iluminar um espetáculo real (…) mesmo que isso signifique enganar a realidade.” Primeira exibição na Cinemateca. 
 
 
Quarta-feira [16] 21h45 | Esplanada 
Quinta-feira [31] 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro  
A THERAPY 
de Roman Polanski 
com Helena Bonham Carter, Ben Kingsley 
França, 2012 – 4 min 
L’IVRESSE DU POUVOIR 
A Comédia do Poder 
de Claude Chabrol 
com Isabelle Huppert, François Berléand, Patrick Bruel, Robin Renucci, Maryline Canto, Jean-François Balmer 
França, 2005 – 110 min / legendado em português | M/12 
 
Jeanne Charmant-Killman é a juíza de instrução encarregada de um caso de corrupção que compromete o presidente de um importante grupo empresarial. As investigações conferem-lhe um crescente sentido de poder que acabam por fragilizar a sua vida pessoal. Inspirado no caso Elf Aquitaine, muito publicitado em França em 2003 como o mais notório escândalo político-industrial do pós-guerra, o filme abre maliciosamente com um aviso, “Qualquer semelhança com factos reais e personagens conhecidas será, como se diz, fortuito…” Estudo sobre a natureza do poder, L’IVRESSE DU POUVOIR é também um filme que trabalha a luz e as sombras. Corresponde à quinta colaboração entre Eduardo Serra e Chabrol (fizeram sete filmes juntos), sendo que sobre o seu trabalho conjunto, o diretor de fotografia explicou que “Chabrol privilegia outros aspetos e esquece a dimensão visual. (...) [No entanto,] ter liberdade torna-se um constrangimento. Podemos fazer o que quisermos, mas ao mesmo tempo podemos meter-nos por becos sem saída.” A abrir a sessão (apenas na segunda passagem do filme) exibe-se um dos últimos trabalhos de Eduardo Serra, o filme publicitário que Roman Polanski fez para a Prada, com Ben Kingsley enquanto psicoterapeuta (obcecado por casacos de peles) e Helena Bonham Carter enquanto sua paciente (apropriadamente vestida). 
 
 
Quinta-feira [17] 21h45 | Esplanada 
Terça-feira [22] 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro 
WHAT DREAMS MAY COME  
Para Além do Horizonte 
de Vincent Ward 
com Robin Williams, Cuba Gooding Jr., Annabella Sciorra 
EUA, 1998 – 113 min / legendado eletronicamente em português | M/12 
 
O médico Chris Nielson (Robin Williams) ama Annie (Annabella Sciorra), a mulher com quem tem dois filhos. São felizes, pelo menos até ao dia em que, após um acidente de aviação, o casal perde as crianças. A vida torna-se penosa e, pior que isso, quatro anos depois, Chris morre também. Só que, pouco depois, acorda no paraíso e reencontra os dois filhos. Sozinha e desesperada, Annie comete suicídio, o que a leva para o inferno. Inicia-se então uma aventura de “busca e salvamento” do espírito perdido da sua amada. Adaptação do romance fantástico de Richard Matheson, o filme reinterpreta de forma lúdica e inventiva o universo pitoresco do Inferno de Dante. Sobre esta parceria, Eduardo Serra afirmou que “o Vincent Ward só se interessa pelo que ainda não foi feito, como eu. Ele está sempre a convidar-me a inventar coisas e a utilizar um leque muito vasto de possibilidade técnicas, às quais está sempre aberto. A sua riqueza como artista é a sua forma de pensar, que não é de todo académica. O processo criativo de Vincent pode ser muito confuso para as pessoas que o rodeiam, mas essa é também a sua vantagem.” WHAT DREAMS MAY COME é o filme mais ousado e “experimental” da carreira de Eduardo Serra. Primeira exibição na Cinemateca. 
 
 
Sexta-feira [18] 21h45 | Esplanada 
Quarta-feira [30] 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro 
UNBREAKABLE 
O Protegido 
de M. Night Shyamalan 
com Bruce Willis, Samuel L. Jackson, Robin Wright Penn, Spencer Treat Clark 
Estados Unidos, 2000 – 106 min / legendado eletronicamente em português | M/12 
 
Bruce Willis (David) é o único sobrevivente de um desastre ferroviário, fenómeno considerado inexplicável. Samuel L. Jackson (Elijah) é o seu “oposto”, um homem frágil e doente com ossos quebradiços como vidro. O segundo desenvolveu uma singular teoria para explicar o caso, a partir da sua paixão pelos super-heróis da banda desenhada. Trata-se de uma “fábula contemporânea sobre a insegurança” (Manuel Cintra Ferreira) que antecipa a monumental transformação imposta pelo ataque do 11 de Setembro. M. Night Shyamalan regressou a este filme quando, em 2017 e 2019, completou a sua “trilogia dos Super-Heróis” com SPLIT e GLASS. Sobre o tratamento visual das personagens deste filme, Eduardo Serra defendeu que, ao longo de UNBREAKABLE, "David vai da luz fria para a quente e Elijah faz o percurso inverso. Eles refletem-se simetricamente e como tal os seus arcos de cor também." 
 
 
Sábado [19] 21h45 | Esplanada 
Terça-feira [29] 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro 
THE GIRL WITH THE PEARL EARRING 
Rapariga com Brinco de Pérola 
de Peter Webber 
com Colin Firth, Scarlett Johansson, Tom Wilkinson, Judy Parfitt 
Estados Unidos, 2003 - 100 min / legendado eletronicamente em português | M/12 
 
Baseado no romance de Tracy Chevalier, GIRL WITH THE PEARL EARRING recria os acontecimentos que envolveram a criação do famoso quadro de Vermeer (Colin Firth), avançando a hipótese, não comprovada historicamente, do modelo ter sido uma criada que vivia em casa da família do pintor (Scarlett Johansson). Uma das grandes apostas do filme é a luz e a fotografia de Eduardo Serra, que viu aqui o seu trabalho reconhecido com a sua segunda nomeação para o Oscar de Melhor Fotografia. O diretor de fotografia explicou que, neste filme, pode levar ao limite as suas reflexões sobre a pintura e a fotogenia, defendendo que “é raro um diretor de fotografia ter a oportunidade de fazer um filme sobre um rosto. Se Scarlett não tivesse uma pele tão transparente, o filme podia não ter ficado tão bem. Uma pele translúcida é uma extraordinária matéria-prima. A relação luz-pele é fundamental para o meu trabalho”. 
 
 
Segunda-feira [28] 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro 
JUDE  
de Michael Winterbottom 
Com Kate Winslet, Christopher Eccleston, Rachel Griffiths, Liam Cunningham 
Reino Unido, 1996 – 127 min 
 
JUDE inspira-se na obra de Thomas Hardy, Jude the Obscure (1895), na qual se retrata o amor e a pobreza no século XIX. Jude (Christopher Eccleston) é um jovem rapaz inglês que encontra um mentor no seu professor Phillotson (Liam Cunningham). Os anos passam e, depois de ter sofrido o abandono da sua mulher, Jude conhece Sue (Kate Winslet), uma jovem de caráter independente, e apaixona-se. No entanto, o seu professor apaixona-se igualmente pela jovem, construindo um triângulo amoroso que altera as suas vidas para sempre. Eduardo Serra explicou que “em JUDE as mudanças visuais são visíveis, e os capítulos que estruturam o filme são fortemente marcados. O argumento era muito preciso em relação à estrutura narrativa e jogámos com as cores dominantes, a filtragem, as técnicas de laboratório e também a iluminação, os contrastes e a imposição da luz principal.” No jornal A Capital afirmou mesmo que, com LE MARI DE LA COIFFEUSE, “faz parte dos meus trabalhos preferidos”. Primeira exibição na Cinemateca. 


Latest Articles

"Terra Vil" tem estreia oficial na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

O filme "Terra Vil" realizado por Luís Campos e com direção de fotografia de Pedro P...

"A Fronteira Azul" disponível no canal ARTE

"A Fronteira Azul", de Dinis Costa, disponível no canal ARTE Depois de passar pelo prestigiado F...

Assine a nossa Newsletter.

Associação de Imagem cinema-televisão Portuguesa

Fundada em 2 de junho de 1998
Pela Arte e Técnica Cinematográfica

Contactos


Copyright © Powered by Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar..