ALBERTO PIMENTA
1957-2020
O colorista Alberto Pimenta teve um papel crucial e relevante para os diretores de fotografia numa época de transição tecnológica que apanhou todos de surpresa.
Alberto Pimenta trouxe a sua enorme experiência técnica que obteve no período que esteve na RTP entre 1980 a 1992 na função de operador de telecinema. Nessa época utilizava-se muito o formato de 16mm para programas especiais e mesmo para notícias sendo depois gradualmente substituído pela betacam.
Em 1992 sai da RTP para ingressar num outro projeto inovador que foi da primeira casa de pós-produção do país a «A Casa das Máquinas» em que tinha como sócios fundadores Lucília Nunes, Paulo Trancoso e João Rapasote. Poucos anos depois a empresa evolui, sendo fundida com outra a Alturas Vídeo fazendo assim nascer o Centro de Edição Especial CEE.
Quase no início deste século por volta de 1999 nasce o laboratório de negativo Light Film. Era o segundo laboratório e o primeiro inteiramente de capitais privados, porque até ali só existia o laboratório público a Tobis Portuguesa.
A montagem do laboratório e a conjugação com a pós-produção de imagem, nomeadamente o telecinema e a correção de cor eram necessidades prementes da evolução que o mercado tinha tomado desde a introdução do digital na pós-produção de imagem e a Tobis na altura não estava à altura de dar resposta. Com a implementação do novo laboratório surge no 2º andar do edifício as máquinas de telecinema Ursa Diamond da Rank Cintel e com o corretor de cor clássico Davinci e uma segunda sala com C-Reality também da Rank Cintel e com o corretor de cor DaVinci 2K Plus.
É nos anos subsequentes que Alberto Pimenta começa a ser fundamental para os diretores de fotografia. Até ali os diretores de fotografia estavam circunscritos à cópia analógica enquanto a partir daquele momento podiam contar com um poderosa ferramenta de correção de cor que só o Alberto sabia manipular de forma artística e técnica naqueles primeiros anos.
Os conhecimentos adquiridos pela sua passagem na RTP e a montagem das outras empresas anteriores fizeram dele um expert na técnica e na manipulação da imagem vídeo aliado a uma sensibilidade espantosa no domínio e na manipulação das cores.
Os diretores de fotografia que com ele trabalharam tinham apenas afirmações de elogio pelos resultados obtidos. Muitos como o Carlos Lopes disse numa entrevista que deu na longínqua revista «Imagem cinematográfica», citando de cor - obrigado Alberto por tudo o que tens dado de bom ao meu trabalho – não menos eloquente de Luís Branquinho que afirmou que «quantas vezes não salvou as minhas asneiras e quantas vezes deu realce à minha fotografia», O João Lança Morais ainda vai mais longe e «cada vez que entrava na sala do Alberto ia com bichinhos na barriga. Na expectativa do que iria ver, se a exposição estava certa, se não tinha borrado a pintura… era como ir ao dentista arrancar um dente, era o exame final.». Foram momentos que muitos dos diretores de fotografia partilharam com o Alberto Pimenta que foi na era do digital o pioneiro colorista que deu brilho às imagens.
O Alberto afirma que ser colorista «é uma profissão muito interessante. Tem de dar a sua visão e gosto ao trabalho numa extensão do diretor de fotografia.» e acrescenta «Nutro pelos diretores de fotografia uma admiração muito especial e uma aproximação muito grande. É a imagem que nos une. Fiz inúmeros testes com DF’s e experimentamos muita coisa. Aprendi muito com eles e por isso tenho muito respeito. É uma classe de pessoas extraordinárias e tenho muito orgulho em trabalhar com eles.»
Alberto Pimenta veio neste período em que os diretores de fotografia pouco ou nada sabiam de correção de cor no formato digital e foi ele que com a sua perícia técnica, bom gosto pessoal e com uma capacidade nata de manipular as cores que deu um passo em frente auxiliando os diretores de fotografia a obterem as suas imagens.
É neste espírito de gratidão e amizade que os DF’s da Associação de Imagem prestam uma merecida homenagem ao Alberto Pimenta.
Fevereiro de 2020
Alberto Pimenta faleceu vítima de doença prolongada na noite que foi homenageado pela aip. 6 de março de 2020.
Alberto Pimenta à direita a falar com o realizador João Carlos Pelotte na sala de correção de cor da Light Film